Procrastinação: Essa mania de deixar para amanhã
A procrastinação costuma provocar desconfortos emocionais como aumento do estresse, culpa, perda de produtividade e sentimento de vergonha pelo não cumprimento dos compromissos e responsabilidades. Mas podemos aprender a lidar com essa característica

De um lado, uma lista de tarefas a serem cumpridas. Do outro, os prazos que ficam a cada hora mais curtos. No meio, aquela “enrolação” que aparece em forma de dificuldade enorme de concentração, navegação absolutamente improdutiva nas redes sociais, sensação de torpor ou agitação. Ou seja: nada que contribua para a realização das atividades com as quais nos comprometemos. E à medida que o tempo passa o desconforto emocional aumenta, marcado pela impressão de que jogamos fora um tempo precioso, que não foi usado de forma produtiva para o trabalho ou estudo no momento adequado. E pior: nem de maneira realmente prazerosa para o lazer ou o descanso. Essa espécie de armadilha da qual pouca gente está imune atende pelo nome de procrastinação.
“Esse é um dos grandes problemas da atualidade, em especial entre os mais jovens”, diz o psicólogo Tim Pychlyl, pesquisador da Universidade de Carleton, no Canadá, que estuda o fenômeno há mais de duas décadas. Segundo ele, a procrastinação pode ser prejudicial para a saúde mental, com o aumento do estresse, da sensação de culpa e sentimento de vergonha pelo não cumprimento dos compromissos e responsabilidades. Na opinião de Pychlyl, a forma como a pessoa com esse comportamento percebe o tempo deve ser considerada, mas a questão tem outras facetas, já que estamos falando da decisão de não fazer algo mesmo se sabendo que a longo prazo isso será pior. “Estamos falando de falta de organização e emocional, da capacidade de controlar impulsos e, em última instância, da dificuldade de cuidar de si mesmo.”
Um estudo recente desenvolvido por pesquisadores da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, demonstrou que pessoas que acreditavam dominar as adversidades e ter alguma possibilidade de escolha, por mais desagradável que fosse a tarefa a ser cumprida, eram mais propensas a insistir em sua realização.
Muitas vezes, quando as coisas não ocorrem como esperamos, tendemos a adotar atitudes que confirmam a “falta de sorte” e entramos, sem perceber, num círculo de repetições; compreender esse processo é fundamental para interromper o movimento
MUDANÇA DE HÁBITO

Psicólogos cognitivos argumentam que colocar no papel nossas metas, de preferência com detalhes, pode ser muito útil. A técnica consiste em especificar também quais as possíveis dificuldades que a pessoa poderá enfrentar até chegar a seu objetivo e as estratégias que podem ser usadas em cada caso. Com isso, as dificuldades são antecipadas junto com as soluções, o que, para muitas pessoas, ajuda a diminuir o nível de ansiedade. “Identificar comportamentos específicos, decidir quando realizá-los e, depois, insistir em repeti-los costuma ser bastante eficaz”, diz a psicóloga e pesquisadora Phillippa Lally, da Universidade College London. Um estudo coordenado por ela mostrou que formar um novo hábito pode levar de 18 até 254 dias, dependendo do comprometimento da pessoa, do grau de motivação, das condições externas e da dificuldade de incorpora-ção do novo comportamento. “Claro que em algum momento vamos nos sentir tentados a desistir, mas, se tivermos planos previamente traçados, teremos menos oportunidade de sabotar as boas intenções”, observa. Segundo a pesquisadora, se a proposta é ter uma dieta mais saudável, com mais frutas e vegetais no cardápio, por exemplo, é útil definir em que momento do dia vamos comer as porções: talvez uma em cada refeição principal, outra no lanche da tarde, a última após o jantar. Também é preciso definir em que ocasião o alimento será comprado, preparado e até transportado, caso as refeições não sejam feitas em casa. Detalhes, com certeza – mas, quando se trata de cuidar de si mesmo, eles podem fazer toda a diferença.
Um dos grandes inimigos da realização dos objetivos no tempo desejado está no pensamento mágico, uma forma primitiva de raciocínio: segundo essa lógica, algo que fazemos, elucubramos ou apenas queremos ter a capacidade de influir no mundo concreto, como que por encanto, ainda que não exista nenhuma relação efetiva entre o que tomamos por causa e por efeito. O psiquiatra Derek Bolton definiu esse funcionamento como “a expressão de fenômenos reais por causas irreais”. Embora essa maneira de pensar seja típica da infância, muitos cultivam na vida adulta a ideia equivocada de que algum fator externo nos trará a realização de um propósito, sem que tenhamos de fazer algo específico para sua concretização – o que nos acomoda e afasta da realização do objetivo.
O fato é que, na contramão das tão almejadas soluções prontas, empenhar-se em realizar o que queremos exige comprometimento e esforço. Mas, seguindo a lógica do imediatismo, cultivamos a ilusão de que tudo deve ser fácil, múltiplo, sem perdas. Assim, focar um único objetivo que exija esforço costuma ser considerado entediante, exageradamente sofrido. É como se diante da falta de espaço psíquico para suportar a espera da recompensa buscássemos gratificações menores, ainda que de fato não nos satisfaçam. “Embora seja tentadora a possibilidade de ‘escolher’ entre a aparente profusão de opções que o mundo atual nos oferece, o problema é que a maioria delas leva a lugares distantes da raiz dos nossos conflitos e aflições, impedindo que os enfrentemos”, afirmou o sociólogo Zygmunt Bauman em entrevista a Mente e Cérebro, dois anos antes de sua morte, em 2017.

“Felizmente, muitos estudos já comprovam que podemos aprimorar o autocontrole com a prática”, diz o doutor em psicologia Mark Muraven, professor da Universidade do Estado de Nova York, em Albany. Ele compara o processo para aumentar a força de vontade ao do fortalecimento dos músculos. A dificuldade para a realização de uma meta, porém, pode não ser tão óbvia e guiada apenas pela vontade imediata. Processos e crenças inconscientes, dos quais sequer nos damos conta, podem estar por trás do que denominamos “incapacidades”. Nesses casos, a ajuda de um psicanalista costuma ser essencial. Durante a análise, vêm à tona questões latentes, que subjazem ao que parece mais imediato e acessível à compreensão. E mesmo a dificuldade em realizar aquilo a que a pessoa se propôs pode ganhar sentidos que ajudam a entender a dinâmica psíquica.
“Se você se torna impaciente e irritado quando tenta modificar seu jeito de agir, tem poucas chances de ter sucesso. Mas, se encara a situação com calma e de maneira mais flexível, é provável que tenha maior abertura para descobrir os caminhos que conduzem aonde quer chegar”, afirma o psicólogo B. J. Fogg, pesquisador da Universidade Stanford.
A RESPONSABILIDADE DOS GENES

Cientistas acreditam que o hábito de adiar tarefas pode ser uma espécie de subproduto de uma outra característica considerada oposta, a impulsividade. Mas o fato de essas características estarem no DNA não serve como desculpa para se acomodar.
E mais: há indícios de que haja uma “sobreposição genética” entre procrastinação e impulsividade. Isso significa que os traços não se manifestam sozinhos: a procrastinação seria, assim, um subproduto da evolução da impulsividade.
Os genes, porém, não servem de desculpa para o adiamento de tarefas. Após um longo levantamento sobre formas de lidar com o problema, a doutora em psicologia Fuschia Sirois, professora da Universidade de Sheffield, sistematizou algumas maneiras que comprovadamente podem ser aliadas na luta contra o adiamento de tarefas (veja nas próximas páginas).
O psicólogo canadense Tim Pychlyl ressalta que a procrastinação é mais comum em pessoas propensas ao perfeccionismo, que se sentem pressionadas pela opinião alheia e temem o fracasso. Parece contraditório, mas nesse caso o adiamento de tarefas pode aparecer como uma forma de defesa. Duvidando da própria capacidade, elas deixam para fazer a atividade na última hora e, caso não consigam realizá-la a contento, podem “acalmar” a si mesmas com a desculpa de que poderiam ter obtido sucesso se tivessem se dedicado mais. É como se ficassem sempre com a possibilidade de “um dia conseguir” caso se empenhem com maior afinco.
O problema é que essa possibilidade permanece suspensa e o que predomina é a angústia, associada ao estresse, à ansiedade e à decepção consigo mesmo. Nos casos em que a pessoa se coloca com frequência em armadilhas que sabotam seu potencial, …..o comportamento pode ser identificado como um sintoma, um sinal de que algo maior não vai bem. “Não raro, a procrastinação reflete um problema existencial mais profundo, como a dificuldade de se identificar com as próprias escolhas e, nesses casos, costuma ser muito produtivo tratar essa situação em psicoterapia”, diz o psicólogo.
SÓ SE FOR AGORA
A percepção do tempo pode colocá-lo tanto a favor como contra nossos objetivos. Em situações em que a data-limite parece fazer parte do presente – este ano em vez do próximo, por exemplo – tendemos nos comprometer mais com os prazos
O que torna algumas tarefas mais difíceis de completar do que outras? A verdade é que o tempo efetivo atribuído para determinada atividade importa menos do que a forma como a mente percebe o limite para sua conclusão. Quando um prazo parece fazer parte do presente, por exemplo, da semana em que estamos, somos mais propensos a iniciá-la mais rapidamente.

…...como o cérebro divide o tempo em categorias. Por exemplo, com o limite no final de um mês ou o início de um novo ano. Ou seja, pensar nos prazos de forma diferente pode favorecer a motivação para iniciar uma tarefa que tem sido adiada. É possível, por exemplo, considerar que a pessoa tem apenas três semanas para entregar o trabalho com a data final para o mês seguinte. Outro jeito de “enganar” o cérebro é criar um calendário que não considere os meses, apenas os dias corridos. Alguns neurocientistas sugerem também dividir uma tarefa em passos graduais, cada uma com seus próprios prazos – o que soará mais imediato. Podemos pensar que o desafio de um estudante seja entregar uma monografia até dezembro. A cada mês ele terá de ter etapas cumpridas, evitando assim a procrastinação e o atraso.
Fonte: Revista Mente e Cérebro/ Scientific América Nº 307
NOSSO OLHAR

É muito ruim quando não conseguimos cumprir nossos compromissos no tempo combinado. Ficamos adiando aquela ação ou decisão, e isso interfere diretamente na realização dos nossos objetivos. Nesse caso, nossa maior dor não é a de não alcançarmos nossos objetivos, mas a de olhar para trás e perceber que poderíamos ter feito muito mais e melhor se não tivéssemos procrastinado tanto. O fato é que, com isso, ficamos culpados e instáveis emocionalmente, o que prejudica a nossa produtividade.
Tudo pode ficar pior ainda quando insistimos em justificar, quando alegamos falta de tempo ou de sorte ou quando queremos soluções mágicas, pois essas atitudes nos levam a procrastinar algo muito importante: o autoconhecimento.
Sem autoconhecimento, não conseguimos identificar a raiz do problema e alegamos incapacidade quando, na verdade, crenças inconscientes são os fatores determinantes do meu comportamento.
Aqui na CMK trabalhamos muito a concentração e a disciplina, ferramentas importantes no combate à procrastinação. Motivar o aluno e ajudá-lo no caminho do autodescobrimento fazem com que a relação professor/aluno transcenda o Dojô, o que amplia cada vez mais a grande família CMK.
Segundo a Epigenética, não obstante já trazermos no DNA algumas tendências comportamentais, existe uma margem de controle desses comportamentos pela nossa psique. Li um dia que “a única realidade que existe é aquela que a sua mente cria”. Sendo assim, com as emoções sob o controle da mente, podemos fazer escolhas que nos levem a uma vida organizada e nada procrastinada.
O segredo do sucesso da CMK está na convivência entre professores e alunos, sem julgamentos e sem cobranças, de forma a promover qualidade de vida e respeito ao SEU JEITO ÚNICO DE SER FELIZ!
A proposta da CMK é aliar ciência e espiritualidade em favor do seu bem-estar!
OSS!